domingo, 4 de outubro de 2009

Meu Coração é Verde e Amarelo...

Para a linha espiritualista, o verde é a energia do chacra cardíaco – do coração, centro dos sentimentos. O amarelo rege o chacra do plexo solar, região do nosso aparelho digestivo e excretor, centro emocional, onde assimilamos as informações do cotidiano que os nossos cinco sentidos captam. O azul representa a energia do chacra laríngeo, situado na garganta, centro da comunicação, da expressão.

No nosso símbolo cívico maior, a bandeira nacional, o verde representa nossas matas, ambiente lúdico onde nasceram os nossos personagens folclóricos mais famosos. O nosso sentimento de brasilidade está intimamente ligado aos curupiras, sacis-pererês, caiporas, dentre outros. Poderíamos até dizer que o verde das nossas matas rege esse centro de sentimento nacionalista. O amarelo relembra nosso ouro. Talvez a nossa primeira percepção de colonizados tenha começado quando os portugueses exploraram nossos minerais, extraindo nossas pedras preciosas para enfeitar os alvos e bonitos pescoços das damas da corte. E assim, também como ocorre com o centro emocional energético, assimilamos a realidade ao nosso redor nos identificando como um povo de alma submissa, com sentimento de inferioridade e de olhar estupefato para tudo que ocorre acima da linha do equador e do outro lado do oceano. O azul, por fim, é o nosso céu límpido e nossas águas cristalinas. É a voz dos cantores e a fala dos escritores que atravessam mares, levando nossa musicalidade única e ao mesmo tempo tão impregnada de tantas outras culturas. É o nosso chacra que canta Tom Jobim, Jorge Ben, Daniela Mercury, Caetano e Chico.

O grande desafio, segundo os espiritualistas, é manter os três chacras – cardíaco / emocional / da expressão – em harmonia, para que o chacra Ananda Khanda possa estar plenamente em funcionamento. Ele é o chacra da essência do verdadeiro Eu – nossa missão. A individuação do ser, segundo Jung.

Qual seria então o grande desafio do Brasil?

Construir sua verdadeira identidade? Encontrar a sua missão de país continental, da América do Sul, dono da maior floresta do mundo, do maior litoral do mundo, do povo mais miscigenado do mundo, de uma das maiores economias do mundo?

Que pena! Não foi isso que eu consegui perceber na comemoração da escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016.

A Comitiva brasileira presente em Kopenhagen e a multidão nas areias da praia de Copacabana foram uma prova nítida da relação dos chacras e das cores da nossa bandeira, pelo meu modesto olhar. O discurso dizia que pela primeira vez um país sul-americano, de terceiro mundo, era escolhido. Que nosso lindo país verdejante receberá os maiores atletas mundiais com seus atabaques e escolas de samba; que nossa feijoada e caipirinha serão os sabores da vitória para aqueles que brindarem com suas medalhas de ouro. Que chegou a vez do Brasil mostrar que pode gastar R$25,9 bilhões dos cofres públicos. Vale registrar que o orçamento 2009 para Saúde é de R$59 bilhões e para Educação é de R$ 41 bilhões.

Podemos realmente gastar?

Sei que talvez fiquem estarrecidos com minhas palavras, sei também que talvez digam que estou sendo antinacionalista ou talvez até que devesse me mudar para outro país. O que posso dizer, no entanto, é que torci por Madri, Japão e Chicago, menos pelo nosso lindo Rio.

Antes de enfeitarmos as ruas cariocas com os aros olímpicos, eu preferiria anunciar em outdooors fotos e fatos mostrando o Brasil com altíssimos índices educacionais, propagandas dos nossos ótimos postos de saúde e hospitais públicos, semblantes plácidos dos moradores dos bairros e cidades livres de violência e insegurança. Estes sim seriam motivos para sediarmos uma Olimpíada, seria nosso melhor marketing.

Eu preferiria ouvir que todo empenho empreendido pelo governo brasileiro em sediar as Olimpíadas tinha sido o mesmo direcionado para a excelência no tripé básico da cartilha governamental de um país sério e representante do seu povo: educação – saúde – segurança. Aí sim, o governo merecia a maior de todas as medalhas de ouro.

Eu gostaria de sentir o comprometimento, a transparência e a retidão em cada ação governamental para utilizar tão alto orçamento, que vem do bolso de cada contribuinte, em projetos dignos e com foco na qualidade de vida do cidadão brasileiro. Aí sim, seríamos a melhor manchete nos jornais ao redor do mundo.

Por tudo isto, sugiro uma mudança nos critérios para a indicação de cidades a sediar olimpíadas e copas do mundo: altos índices de IDH – índice de desenvolvimento humano. Somente com brasileiros saudáveis, seguros e educados com qualidade, poderemos receber grandes eventos e assim parafrasear a eterna Carmen Miranda dizendo: Yes, nós temos Olimpíadas. Ou, quem sabe, para não fugir do complexo de inferioridade nacional, parafrasear Barack Obama e dizer: Yes, we can!